Durante anos fui agnóstico. Não me preocupava em meditar sobre questões espirituais. Centrava os meus raciocínios em compreender a realidade social e a minha acção em integrar movimentos que lutavam por justiça social e aspiravam responder às necessidades materiais mais sentidas no meio onde vivia. Até os 27 anos fui dirigente associativo. Nos anos seguintes dediquei-me à actividade política. Ingressei no Partido Comunista Português e durante 10 anos fui seu funcionário. Naquele Partido desempenhei cargos dirigentes e de 1990 a 2001, fui seu candidato a diferentes eleições, eleito e chamado a exercer cargos públicos.
O ano de 2000 marcou o início do abalo das minhas convicções. Acreditava na capacidade humana em construir uma sociedade justa, de paz e de alegria. Sabia não estar tal sociedade no horizonte imediato mas acreditava na força do ideal, nos amigos e companheiros que comigo faziam o percurso, no avanço da história rumo à sociedade idealizada. Descobri de forma dramática a Verdade que está escrita: “não confieis em príncipes, nem em filhos de homens, em quem não há salvação”.
Em Janeiro de 2001 um novo acontecimento acrescenta dor à tristeza em que vivia: o falecimento do meu pai. No final desse ano traumático decido abandonar a actividade política. Concretizo a decisão após mais uma derrota dum projecto autárquico que acreditava ser vitorioso e no qual me refugiara e me empenhara.
Começar tudo de novo era o meu objectivo. Mas, as coisas continuavam a não correr bem: a proposta de trabalho que tinha não se concretizou e fiquei desempregado. Após algum tempo de inactividade obtenho um emprego numa profissão que nunca tinha exercido e que está longe de corresponder às minhas expectativas. A exigência e a responsabilidade são grandes e, muitos são os momentos frustrantes. Dedico ao trabalho mais e mais horas do dia e da noite.
A tristeza que sentia na época era algo indescritível. Mas o quadro não estava ainda completo. Em Setembro de 2002, é-me diagnosticado um tumor e a urgência duma operação cirúrgica para a nefrectomia total do rim direito.
Agora não era só a minha tristeza. Era o sofrimento que causava a quem amo. Era demais!
Mas, numa noite em Outubro ao jantar num restaurante de Lisboa senti uma paz inexplicável. Nesse restaurante repleto de clientes e exíguo no espaço, dei comigo a falar à minha esposa palavras de conforto, de esperança e de confiança na vida futura.
Falei-lhe da forma milagrosa como o tumor me fora detectado e que os médicos consideraram tratar-se dum “achado radiológico”. Eu tive uma única cólica renal no rim esquerdo e os exames que realizei por ter tido essa cólica revelaram a doença no outro rim. O esquerdo estava bom e recomendava-se. Nenhum outro sintoma houve que me alertasse para a terrível doença que estava no meu corpo.
Naquele jantar dei comigo a testemunhar à minha esposa da existência dum Deus bom para comigo. Eu, um descrente, ali estava a falar na certeza da existência de Deus e de Ele ter um propósito para a minha vida.
Pouco tempo depois vivi uma nova experiência marcante. No meu local de trabalho recebi a visita duma prima que é crente em Jesus Cristo. Ela veio me dizer simplesmente que eu não estava só na luta pela minha vida. Um grupo de pessoas estavam a orar por mim. Embora, não estivesse habituado a ouvir tal coisa, não estranhei a conversa nem a comunicação que ela me estava a fazer. É que eu sabia no meu coração que as suas orações já haviam sido respondidas e já não era a doença que me preocupava mas sim a fome que me possuía em querer conhecer mais deste Deus até então desconhecido.
Em 10 de Janeiro de 2003 fui operado com sucesso. O cancro, embora maligno, fora detectado no tempo certo e nenhum tratamento adicional foi necessário até hoje.
Há um livro na Bíblia chamado “Apocalipse”. Nele está escrito o seguinte: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei na sua casa e com ele cearei e ele comigo”.
Naquele jantar de Outubro, senti-O à porta, ouvio-O e convidei-O a entrar na minha vida. O meu testemunho resume-se ao seguinte: Cristo Jesus vive e é o meu Senhor. Quem o buscar de todo o coração encontrá-lo-á.